sábado, 20 de novembro de 2010

Mantras e Sons Vocálicos - (Luis Fabio Miranda, FRC)

"Encontramos certa confusão entre os termos Mantras e Sons Vocálicos - e com frequência uma simplificação ao apresentá-los ao iniciante como sinônimos - mas veremos que também é muito fácil diferenciá-los, principalmente através da forma de aplicação e dos seus objetivos específicos.


Ambos - Mantras e Sons Vocálicos - são ferramentas onde a base é o som. Muito já se falou sobre o poder do som. Várias tradições - inclusive indígenas - afirmam que ele é um elemento tão importante que estaria ligado à formação do mundo. Até mesmo a ciência refere-se a um "Big Bang", na origem ao Universo. Mas, afinal, o que é o som?

Para o ser humano, som é uma vibração aproximadamente entre 20 e 20.000 ciclos por segundo (medida também chamada de "hertz", cuja abreviação é Hz), propagando­se da fonte que o produz até estimular o tímpano, que transmite a informação ao cérebro, onde ela é interpretada. Outros animais têm faixas diferentes de percepção; no caso dos cães, por exemplo, eles conse­guem ouvir vibrações de até 100.000 Hz e assim podem ser chamados através de apitos inaudíveis para as pessoas. Além disso, há muitas espécies em que as orelhas se movem, ampliando a sua área de alcance. Nos morce­gos, elas captam o retorno das ondas que eles próprios emitem, permitindo o seu deslocamento preciso e alimentação, mesmo na total ausência de luz. Assim, genericamente podemos definir som como uma faixa vibratória que afeta de certa forma tanto a matéria quanto os seres vivos, vegetais, animais e o Homem.



O poder do som em nossas vidas

Todos sabemos muito bem o quanto somos influenciados pelo som, seja por aqueles bruscos, que nos alertam e mesmo protegem - como um estampido, uma buzina, um grito - ou pelos suaves e harmoniosos, que conseguem alterar até o nosso estado de espírito - como um riacho, um acorde, um canto. Especialmente a música, pode mudar nossa disposição, exaltando-nos, entriste­cendo-nos e mesmo nos emocionando até provocar lágrimas.

O som inclusive nos facilitou construir a linguagem, para estabelecer uma comunicação sofisticada com nossos semelhantes, num patamar incrivelmente superior aos demais seres vivos, sem a qual a civilização não teria tido as mesmas condições de surgir e se desenvolver tanto. A ciência avalia que o Homem, fisicamente, já possuía as caracterís­ticas atuais há mais de cem mil anos. A constituição do corpo e do cérebro não teriam mudado significativamente desde então. A civilização, porém, é bem mais recente; ela apareceu há cerca de dez mil anos, depois da estruturação da linguagem, que permitiu a transmissão do conheci­mento, de geração a geração e de povo a povo. Quando a linguagem ganhou a forma escrita, houve um avanço ainda maior, com a fixação do conhecimento e sua transmissão através do tempo e do espaço. Todo este processo culminou no mundo atual, onde minúsculos chips eletrônicos armazenam bibliotecas inteiras e pesquisadores comuni­cam-se instantaneamente, mesmo vivendo em países ou continentes muito distantes, podendo realizar trabalhos em conjunto ou complementares, evitando duplicidades e colaborando para o crescimento exponencial do conhecimento humano.

Mas, voltando ao som: a Tradição ensina que certas combinações sonoras são parti­cularmente eficazes no campo psíquico para atingir objetivos específicos, como o estado meditativo ou os patamares mais elevados da consciência. Aplica-se também aqui o fenômeno conhecido como ressonância, onde uma determinada vibração entra em harmo­nia com níveis de oitavas superiores, fora do alcance de qualquer ouvido.


Símbolo do OM,
considerado o Mantra
do qual se originaram
todos os outros.


Com relação aos sons da Tradição, podemos então analisar e comparar oriente e ocidente:

O termo "MANTRA" é original do sânscríto, combinando MAN (pensar) com TRA (instrumento). Mantras são sons, sílabas, palavras, frases ou mesmo textos, mais conhecidos como ferramentas para a meditação. São utilizados através da entoa­ção, mas podem ser também murmurados, mentalizados, copiados em papel, sempre com a mesma finalidade. Conforme o caso, a vocalização dos Mantras pode ser acompanhada por instrumentos musicais ou mesmo palmas. O resultado é semelhante ao de certas práticas ocidentais de orar até a exaustão: a repetição de sons, palavras e frases, após minutos e mesmo horas, induz determinado estado mental devido à mono­tonia, uma vez que um ato simples e contí­nuo provoca certa anestesia ou indiferença ao próprio ato, como já cientificamente provado. O objetivo de tal prática é suprimir a instabi­lidade da consciência e assim atingir a condição em que a mente está pura, vazia: consciente, mas não-reativa. E o que chama­mos "estado neurofisiológico da meditação". Mas há Mantras para induzir outras condi­ções como: relaxamento, sono profundo, concentração, alegria, exaltação, e ainda aqueles destinados a criar, proteger, energizar, purificar e até mesmo curar. Estima-se que esta prática tenha surgido há alguns milhares de anos, entre o povo do vale do Rio Indo, região noroeste da índia. Mas talvez não seja originária dali, porém tenha sido levada para a região por outra civilização mais antiga. Provavelmente, em tempos ancestrais, os Mantras constituíssem fórmulas mágicas, com a finalidade de afastar certas forças ou eventos e atrair aquilo que era desejado.

Quanto ao tamanho ou extensão, há dois tipos de Mantras: o primeiro é aquele simples, curto, até mesmo monossilábico, chamado BIJA (semente). Como exemplo, podemos citar o "OM", de suma importância, uma vez que ele é considerado "a palavra das palavras", "o passado, o presente e o futuro", ` o mundo inteiro, com tudo o que existe ou que venha a existir", "o Mantra original, do qual se originaram todos os outros". Há um poema antigo que diz:

OM é o arco
a ALMA é a seta
BRAHMA é o alvo
cumpre feri-lo
constantemente

O segundo tipo de Mantra é o complexo, longo, como frases ou textos védicos recita­dos em seu idioma original, o sânscrito.

Quanto aos efeitos, os Mantras podem ser JAPA (repetição) - para introspecção - ou KIRTAN (cântico) - para extroversão, festivos. A chamada "Meditação Trans­cendental", criada por Maharíshi Mahesh Yogi, que ficou conhecido mundialmente como o guru do grupo The Beatles nos anos 60 do século XX, baseia-se na repetição de um Mantra específico, pessoal, indicado por um professor e supostamente o mais ade­quado àquele que o utiliza.

Para os leitores que desejarem se apro­fundar no estudo dos Mantras, a Diffusion Rosicrucienne, da França (www.drc.fr), oferece um livro escrito por Thierry Guinot: "L;Univers des Mantras" (0 Universo dos Mantras), ainda não traduzido para o português. Embora possua 576 páginas, e pareça um tratado, com muitas ilustrações e diagramas, o livro propõe-se a ser apenas um resumo da vastíssima bibliografia existente sobre o assunto, principalmente no oriente. Muito didático, apresenta o conhecimento passo a passo, desde o conceito da "Palavra Perdida" - tão familiar aos estudantes de Misticismo - até a análise da origem, estrutura, tipos e aplica­ções dos Mantras. 0 texto vai além do princípio científico de que "o som é produ­to de vibrações", afirmando que o som existe por si mesmo, associado a cada fase dos mundos físico, psíquico e espiritual, sendo percebido desta forma direta por aqueles que desenvolveram tal capacidade. Assim sendo, as vibrações que ouvimos seriam apenas a liberação, em oitavas ressonantes inferiores, do que já pre-existe, podendo então ser captado pelo sentido mais grosseiro da audição. Em trechos muito místicos e mesmo poéticos, o autor faz comparações, mostrando o quanto a palavra é poderosa, seja quando é logos, que descende e cria, seja quando é prece, que ascende e reintegra.


Sons Vocálicos

Os Rosacruzes não utilizam Mantras em seus exercícios e experimentos, mas sim Sons Vocálicos. A Grande Loja de Língua Portuguesa disponibiliza um CD, que pode ser adquirido inclusive por não-Membros, com as entoações praticadas pelos estu­dantes da Ordem, gravadas na Câmara do Rei da Grande Pirâmide do Egito. Utili­zando tais sons, é possível observar de imediato que eles produzem uma sensação geral de bem-estar, pois todos são bené­ficos; alguns acalmam, tranquilizam, e outros tonificam, elevam a vitalidade.

Som Vocálico, ao contrário do que muitos pensam, não se refere à voz, como pode ser constatado através da consulta a um dicio­nário, mas sim às vogais, ou seja, aquilo que as pessoas em geral conhecem como A, E, I, 0, U, mas que os linguistas desmembram, em cada idioma, para uma análise detalhada, não necessária a este nosso estudo. Em inglês, fica ainda mais clara a exata signifi­cação da expressão e o fato de não se referir à voz: vowel sound (som de vogal) e não vocal sound (som vocal).

Desta forma, qualquer som que inclua pelo menos uma vogal seria um "som vocálico". Na verdade, quando não se utilizam as vogais costuma-se dizer que não temos "som", mas "ruído". Através do estudo e da experimentação, ao longo de sua história milenar, os Rosacruzes encon­traram doze Sons Vocálicos que estimulam os doze Centros Psíquicos do corpo. Para um perfeito entendimento do que são os Centros Psíquicos - e sua diferenciação dos chamados "Chacras" - sugerimos a leitura do artigo já citado no início deste trabalho. Os Sons Vocálicos Rosacruzes são os seguintes: OM, AUM, RA, MA, THO, EHM, EH, KHEI, MEH, EHR, MAR e THA. Cada um deles é entoado em nota musical apropriada. Existem mínimas variações sobre os doze sons e também há algumas combinações que podem ser feitas entre eles, gerando um tipo de cântico, como fica claro na audição do citado CD, que enfatiza a visualização para um melhor aproveitamento da sua prática.

Assim, a primeira diferença entre Mantras e Sons Vocálicos está em sua quantidade: há um número imenso de Mantras, porém existe um conjunto pequeno, bem definido, de Sons Vocálicos Rosacruzes.

Alguns estudantes da Ordem confun­dem Mantras com Sons Vocálicos princi­palmente porque o Mantra "OM" é usado pelos Rosacruzes como Som Vocálico. Porém, mesmo quando se utiliza o mesmo som, no caso, o "OM", a aplicação e o objetivo são muito diferentes.

Vejamos primeiro a diferença com relação à aplicação: o Mantra é repetido por minutos ou mesmo horas. Os praticantes utilizam inclusive o "japa mala" ("cordão de repetição", chamado também "rosário indiano"), um colar com 108 pedras, para acompanhar as séries que fazem. 0 Som Vocálico é entoado geralmente apenas três vezes (em alguns casos específicos, um pouco mais, mas em geral não chegando a dez repetições).

Com relação ao objetivo, como vimos, a função dos Mantras é conduzir um estado profundo de meditação, pelo fenômeno da monotonia, ou - no caso de um Kirtan - euforia, com base no mesmo principio. Outros Mantras têm outra finalidade: relaxamento, sono, concentração, alegria, exaltação, criação, proteção, energização, purificação, cura... Os Sons Vocálicos Rosacruzes são utilizados principalmente para estimular e desenvolver gradativamente e de forma segura os Centros Psíquicos, provocando certos efeitos desejados pelo estudante, ao longo do tempo, como a ampliação ou expansão da consciência, maior equilíbrio, paz, saúde e felicidade.

Este é mais um dos fascinantes assun­tos que fazem parte dos Ensinamentos Rosacruzes.


Autor: LUIS FABIO MIRANDA, FRC
Fonte: Revista – O Rosacruz

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