sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mãos - (Monja Coen)


"Minha mãos estão envelhecendo.
Eu as vejo envelhecer, os dedos engrossados pela artrose.
Raramente vejo meu corpo.
De repente, em um hotel, há um espelho e me surpreende encontrar esta senhora de carnes flácidas.
Sou eu.
Quem sou eu?
O corpo que se transforma e a mente que não percebe.
Surpresas.
Então me proponho a fazer dietas, exercícios.
Quimeras.
Sento-me na janela do hotel, em frente ao mar.
Mar de Salvador.
Há de me salvar.
Ondas pequenas, marolas.
Um navio a passar.
Nas pedras batem ondas brancas de espuma
E uma piscina transparente se forma.
Só há o som da água.
Marolas.
Respiro e me inspiro
A meditar.
Zazen.
Silêncio interior.
Não importa mais o corpo, a mente, a alegria, a dor.
Integração.
Ao Zazen o meu perdão, minha gratidão, minha vida.
Não sou eu quem faz Zazen.
É o Zazen que me faz.

Uma hora passa rápido.
Tem gente a me esperar.
Palestras, conversas, reflexões.
A monja que fala de lucro, empresas, felicidade.
Monja que índio desenha em transformação.
“Sua voz me é conhecida, muito conhecida.”
Intimidade.
Falar ao íntimo do ser.
Pois intersomos.
Baixo.
Alto.
Dorme uma cabeça loira que no final me abraça com olhos úmidos.
Lindo demais.
Não há corpo e há o abraço.
Que sente coração batendo
Que recebe ternura
Que acolhe tristezas
Que transforma em beleza
Momento perene, eterno

No dia seguinte outro avião.
Do céu vou lembrando Caymi
E as ondas verdes do mar.

Outra cidade -
Goiânia.
Só para mulheres.
Hotel cinco estrelas por duas horas.
Almoço abrindo restaurante
A loja mágica
Estátuas de Buda, Haruman, Shiva, Kannon
Pinturas, incenso, música, autor, artista, sensível
Platéia feminina
Alguns homens sentados
Entre tantas mulheres
Ouvindo a monja falar

Fala da vida, fala da morte
Fala da paz
Fala que fala
Sem parar
Fala, medita, levanta, agita
Senta
Tranqüiliza
A mente que pretende
Não há outra espiritualidade
Do que viver coerente
Valores, princípios
Profundos da gente

Amor liturgia
Incondicional
Sem cobrança
Transforma em bem todo o mal

Demora?
Que importa.
Pouco a pouco.
E se acolhe.
Ama a si mesma mulher brasileira
Não permite o abuso, a violência
Encontra meios expedientes
Sem cólera
Sem raiva,
Sem rancor
Afasta essa dor
Ensina os meninos
A compartilhar
Trabalhos de casa, crianças a educar
Mulheres e homens em parceria
Construindo uma nova maneira de ser
Viver
Harmonia
Compartilhamento
Cuidado
Ternura
E retorna ao convento"

Gassho
Monja Coen

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