terça-feira, 28 de julho de 2009

Sarada Devi, a Santa Mãe


"Viva em santa companhia. Tente ser puro. E tudo será alcançado gradualmente. Ore a Sri Ramakrishna. Eu estou com você. Por que temer? No tempo certo Ele fará tudo para você."



Sri Sarada Devi (1853-1920) é chamada afetuosamente de "Santa Mãe" por milhões de pessoas ao redor do mundo. Sarada Devi foi a esposa de Ramakrishna, companheira espiritual e uma gigante em espiritualidade por seu próprio mérito. Viveu uma vida muito simples, despretenciosa e extraordinariamente modesta, mesmo assim sua vida e ensinamentos ressoam com a verdade da mais alta realização espiritual. Como a grande discípula de Swami Vivekananda, Sister Nivedita escreveu: “Nela se vêem realizadas aquela sabedoria e doçura que a mais simples das mulheres pode alcançar. E ainda, para mim a grandeza da sua cortesia e sua mente incrivelmente aberta são quase tão maravilhosas quanto a sua santidade. Sua vida é expressa no intenso silêncio da oração.”


Seu Nascimento

A uns cem quilometros a oeste de Calcutá, está situada a pequena aldeia de Jayrambati, onde nasceu a Santa Mãe. Apesar de ser uma aldeia atrasada, a vida transcorria bastante feliz, antes de ser invadida pela malária, que fez estragos durante a segunda metade do século dezenove.
A monotonia da vida dos aldeões, com frequência, era interrompida pela celebração das grandes festas religiosas hindus, tais como Durga Puja, Kali Puja, Dol Purmina, etc, e pelo culto especial que se rendia a várias deidades, entre elas, Shitala, Dharma, Shantinath ( a imagem de Shiva ) e Simhavahini, que era a Deidade tutelar de Jayrambati.
Sri Sarada Devi nasceu em 22 de dezembro de 1853, e foi a primera filha de Ramachandra Mukherji e Shiamasundari Devi. Nascida e criada na atmosfera rural de Jayrambati, ela recebeu a mesma educação das aldeãs pobres da India, pertencentes às castas altas. Era demasiado séria e recatada para entregar-se aos jogos infantis, como faziam as meninas da sua idade.
Aghormani, que foi sua companheira de jogos costumava dizer: A Santa Mãe era muito simples em seus hábitos. Durante as brincadeiras, gostava de fazer papel de dona de casa. Entre seus brinquedos haviam bonecas; mas ela costumava adorar muito devotadamente, com flores e folhas de bilva, as imagens em argila de Kali e Lakshmi. Uma vez, por ocasião do Yagaddhatri Puja, estava meditando tão profundamente que chegou a identificar-se com a deidade a tal ponto, que Ramhridai Ghoshal de Haldepukur, ao vê-la, experimentou grande assombro e reverência.

O Casamento
Enquanto a pequena Sarada crescia, em outra parte da India a grande alma a qual ela estava destinada passava por um grande período de desenvolvimento espiritual. Sri Ramakrishna,nascido em 1836 em Kamarpukur, como terceiro filho de Khudiram Chatterji, se havia tornado, em 1855, em sacerdote de Kali, no templo de Dakshineswar. Desde a infância tinha un temperamento muito devoto e místico. Perdeu todo interesse pela vida mundana, e todo seu tempo passava em um estado de absorção e práctica de austeridades. Se entregou totalmente à oração e à contemplação, esquecendo de comer e dormir; não se dava conta do passar dos dias e das noites. Fizeram então Sri Ramakrishna retornar à casa paterna para administrar-lhe algum tratamento;quando então estando Ramakrishna mais calmo resolveram aplicar-lhe um remédio mais drástico: Arranjariam um casamento para ele.Pensaram que um casamento seria a melhor maneira de atar sua mente ao mundo.
Em seguida começaram as buscas de uma noiva conveniente;mas não foi tarefa fácil. A família Chatteryi era pobre, e as somas que os pais que tinham filhas para casar pediam como dote eram supeiores aos recursos do senhor Rameswar. Para surpresa de todos Ramakrishna aceitou a ìdéia de casar-se e vendo frustrados os esforços de seus pais para arranjar-lhe uma noiva disse:
"Vã é a vossa busca neste ou outro lugar. Ide a Jayrambati e alí,na casa de Ramachandra Mukherji.achareis aquela que está destinada para mim". Pouco tempo depois em maio de 1859 celebrou-se o casamento entre a pequena Sarada e Sri Ramakrishna."

A Divina Esposa de Sri Ramakrishna
A Santa Mãe teve a oportunidade de se familirizar com Sri Ramakrishna por volta de 1867, muito depois do casamento. Sri Ramakrishna não se descuidou dela. Tomou-a sob Seus cuidados e, gradativamente, carinhosamente, impartiu-lhe profundo conhecimento do caráter humano, ensinando-a como viver no espirito de completa resignação a Deus. Ele, literalmente, adorou-a como a Divina Mãe. Afirmando que ela e a Mãe Kali do templo, eram uma só, despertou nela o sentido de maternidade a todas as criaturas. O relato de sua vida simples, austera, auto-apagada e maternalmente amante de todos, é realmente ímpar e ultrapassa todos os exemplos. Sua vida foi uma longa quietude de oração e de singular devoção. Com transbordante afeto, a Santa Mãe era o consolo infalível a todo coração amargurado que buscava refúgio em Seus santos pés, paz eterna e liberação das ansiedades e tribulações da vida do mundo. Homens e mulheres que se aproximavam dela para serem desafogados da extrema tensão de suas aImas afligidas, tornavam-se recipientes de suas bençãos imortais e de doces palavras de amor e sabedoria que acalmavam as dôres pungentes de seus corações, para sempre. Sua vida foi a síntese perfeita dos supremos ideais de Gñana, Bhakti e Karma, raramente encontrados, em tão harmoniosa união, em qualquer parte do mundo. Em sua vida de pura simplicidade, pureza, piedade e auto-dedicação, o hindu atual descobriu a perfeição do ideal da feminilidade, que tanto tem solidificado sua cultura. Ela era única em ser a espôsa dedicada, a perfeita Sannyasini, a mãe afetuosa ,mestra e preceptora. A Santa Mãe entrou em Mahasamadhi a 20 de juiho de 1920, em Calcutá.

O Magnetismo da Personalidade de Sarada Devi
Qual é a fonte do magnetismo deste nome e desta personalidade? Mesmo um tênue conhecimento da sua vida nos fará concluir que este magnetismo não provém de quaisquer aspectos da sua personalidade que sejam reconhecidos pelo mundo moderno como significativos em uma mulher. Por todos os aspectos externos, a Santa Mãe era bastante comum, ou mais que comum. Rústica na simplicidade, quase que iletrada, tímida e modesta, estava a quilômetros de distância do tipo de mulher moderna ativa, educada e independente. E ainda assim, sua vida encontra poderosos ecos de receptividade no coração de todos os homens e mulheres, por mais simples ou modernos que possam ser. É evidente que ela captou, na sua vida e ser, o valor fundamental que reside por trás da feminilidade da mulher e que transcende todas as distinções baseadas meramente no sexo e seus atrativos. Este fato sozinho explica o seu apelo universal, representando, como ela foi, não um tipo meramente nacional ou racial, mas a realização da mulher como mulher, a realização, em carne e osso, do Eterno Feminino.

Sarada Devi: Sua Eminência Espiritual
O próprio Sri Ramakrishna reconheceu a eminência espiritual de Sri Sarada Devi. Diferente do rumo geral dos aspirantes espirituais que abandonam todos os contatos mundanos ao entrarem na vida religiosa, para quem existe as sanções das leis religiosas e costumes por trás deles, Sri Ramakrishna acolheu Sarada Devi ao seu lado quando ela, no devido tempo, veio requerer seus direitos junto a ele. É um episódio profundamente comovedor das suas vidas, que ajuda a revelar a essência dos dois. Sri Ramakrishna estava em Dakshineswar, passando por verdadeiras tempestades de estados e experiências espirituais; exceto por duas ocasiões das suas curtas visitas à aldeia natal, ele não havia se encontrado com sua legítima esposa nesses dose longos anos e aparentemente parecia ter se esquecido dela.
Sarada Devi, então com dezoito anos, entrou em seu quarto tarde da noite depois de uma árdua jornada da sua aldeia natal na companhia de seu pai. Ela tinha receios em seu coração devido aos rumores que tinha ouvido em sua aldeia sobre a transtornada condição mental de seu marido, e sobre o seu conhecimento da completa indiferença que ele demonstrava pelos assuntos mundanos. Mas Sri Ramakrishna, embora um pouco surpreso com a sua chegada inesperada, a acolheu com muita cordialidade, acomodando-a em seu próprio quarto para facilitar ao atendimento médico e cuidados necessários ao seu corpo acometido pela doença e pela fadiga durante a longa caminhada. Ela reconheceu nele o mesmo amável e divino marido que havia conhecido durante as suas visitas anteriores à aldeia. Um dia, quando ela estava mais confortável, Sri Ramakrishna lhe falou assim:
'Quanto a mim, a Divina Mãe mostrou-me que Ela habita em toda mulher, e sendo assim, aprendi a olhar para toda mulher como Mãe. Essa é uma idéia que posso ter sobre você; mas se você deseja me arrastar para o mundo, como me casei com você, estou a seu dispor.'
A essa complicada questão de seu marido divino, Sarada Devi deu esta simples resposta:
'Por que eu desejaria arrastar sua mente para o plano mundano? Eu vim somente para ajudá-lo no caminho escolhido. Desejo apenas viver com você, servi-lo e aprender com você.'
Esta resposta de sua pura e imaculada esposa agradou imensamente a Sri Ramakrishna, que experimentou uma grande ascensão de força espiritual. Sua missão, no mundo, de fazer a humanidade se tornar consciente da sua natureza divina inata não seria um esforço solitário; ele reconheceu em Sarada Devi uma companheira em sua nobre missão; com um ano da sua chegada, ele confirmou a verdade desta elevada consideração da sua esposa através do Shodasi puja em 1872. Desde então até o final da vida dele, por quatorze anos inteiros, Sarada Devi serviu a pessoa de Sri Ramakrishna e a um grande número de discípulos e devotos que o visitavam, com uma rara devoção e uma impessoalidade sem par na história humana. Foi também o período da sua intensa educação espiritual sob a orientação de seu divino esposo. Ela se referia a este período como uma experiência contínua de intensa felicidade. Por meses viveram no mesmo quarto e dormiram na mesma cama, sem qualquer traço de pensamento carnal em mente. Suas mentes planavam constantemente na região da divina consciência e felicidade; cada um foi transfigurado pelo outro; e ambos se tornaram instrumentos para o cumprimento da vontade divina. O imenso reservatório de energia espiritual--divina shakti—que foi gerada pelas sâdhanâs de Sri Ramakrishna e Sarada Devi encerram a promessa da evolução espiritual da humanidade moderna que lamentavelmente sente sua trágica pobreza espiritual em meio à abundante riqueza material.

Seu Papel como Mestra Espiritual
Sri Ramakrishna deixou este mundo em 1886. Sarada Devi tinha então trinta e três anos. Tendo vivido num plano não físico de relacionamento com seu marido, ela não experimentou o sentimento de viuvez quando da morte deste. Para ela, ele continuou a ser uma realidade vivente até o final dos seus dias. E pelos trinta e quatro anos seguintes, ela viveu uma vida complexa em seus papéis e variada em sua riqueza, doce e silenciosa, que ganhou para si o carinhoso título de 'Sri Ma', 'a Santa Mãe', pelo qual passou a ser conhecida. Ela foi convocada a ser a guia espiritual dos monges da Ordem Ramakrishna, constituída inicialmente pelos discípulos diretos de Sri Ramakrishna sob a liderança do Swami Vivekananda; e a ser guru de um crescente círculo de homens e mulheres famintos de espiritualidade. Sua eminência espiritual e o poder divino da sua personalidade capacitaram-na a desempenhar este significativo papel com facilidade e naturalidade. Mas foi no papel de uma mulher do lar, no seio do seu próprio círculo familiar constituído por seus irmãos de sangue, cunhadas, e sobrinhos, que a santa mãe manifestou uma faceta exclusiva do seu caráter e personalidade. É este aspecto da sua personalidade que provê um magnífico exemplo de espiritualidade prática capaz de inspirar a todos os homens e mulheres. A monja brilhou através da dona de casa, e ambas brilharam através do coração de uma mãe amantíssima. Longe de se esquivar de um mundo de distrações, ela o abraçou, envolvendo-o em seu amor. E no meio de milhares de distrações, preservou a naturalidade e a paz de sua personalidade.

Sua Maternidade de Natureza Divina
Verificação é prova de uma teoria ou de uma afirmação. Somente o teste da vida demonstra a genuinidade de uma virtude moral ou de um valor espiritual; virtudes são melhor examinadas no infortúnio que na boa fortuna. É bastante fácil manter-se a postura e a elegância nos bons tempos; mas é somente no mau tempo que comprovamos a sua genuinidade. A tranqüilidade, postura, elegância, e o espírito de amor incondicional e serviço impessoal, que Sarada Devi expressou em sua vida diária no contexto de um ambiente altamente perturbador de total materialidade, a possessão deste poder por um homem ou uma mulher os torna puros e santos. A expressão deste poder na vida é amor.
Sarada Devi foi a verdadeira personificação desta pureza, santidade, e amor que é o significado do ideal de maternidade em sua melhor e mais elevada acepção. Sua pureza está incorporada no coração de cada mulher. Uma mulher comum apreende em sua vida somente uma fração deste ideal pelo qual ela resplandece em terna amabilidade e santidade. Uma função meramente biológica se torna elevada graças ao insuflo de um valor espiritual. Mas este valor espiritual resplandeceu em sua plenitude, ainda que fora do contexto biológico, na personalidade da Santa Mãe, demonstrando por isso o ideal em sua forma simples. Fora a abundância do seu coração, ela deu seu amor a todos sem qualquer distinção, justificando assim o carinhoso epíteto de ‘Santa Mãe’.
Fora do comum em todos os valores básicos de caráter e personalidade, porém ocultando-os sob o manto da simplicidade na esfera do físico e social, a Santa Mãe ilude a compreensão das mentes comuns, mas revela a sua verdadeira forma a todos os buscadores dos valores fundamentais. Não disse Sri Ramakrishna sobre ela? 'Ela é Sarasvati, a deusa da Sabedoria, que veio para distribuir conhecimento espiritual à humanidade.' E não disse ela com respeito si mesma: 'Sri Ramakrishna deixou-me aqui para manifestar o ideal da Maternidade Divina.'

Fonte:http://www.vedantarj.org.br/SITE/Portugues/VEDANTA/maedivina.htm

Nenhum comentário: