quinta-feira, 18 de junho de 2009

Terapia X busca espiritual - (Satyaprem)


"Você busca sua essência fora de você, por isso que você faz tudo o que faz. Terapia, inclusive... E o que é mais moderno é que as terapias estão se confundindo com busca espiritual. Mas isso é impossível. Porque nenhuma terapia vai encontrar o "Espírito". Nenhuma. Ela não foi desenhada para fazer isso. Todas as terapias vão ter que ser abandonadas num certo momento. A terapia é desenhada apenas para o seu sistema se desintoxicar de pensamentos negativos, sentimentos negativos e química negativa que está fluindo no seu corpo. As coisas que você comeu... Mas veja bem: todas essas coisas são temporárias, porque chega um ponto que você não pode ficar continuamente fazendo terapia. Porque não existe aperfeiçoamento. Você nunca vai atingir a perfeição absoluta num nível mental, sentimental ou corporal. Porque é da natureza do corpo, da mente e dos sentimentos permanecerem fluidos; eles são afetados pelo meio ambiente... A comida que você come, alguma coisa que acontece... E mais cedo ou mais tarde todos os "budas" morrem, não morrem?! Os corpos morrem. Se houvesse, de alguma forma, o encontro através da perfeição do corpo e da mente, nós teríamos "budas" de dois mil anos andando entre nós. Se esse fosse o segredo... Mas o segredo é transcender a forma. Só que a maioria das coisas que estamos lendo, a maioria das coisas que estão acessíveis, muito pouco apontam para essa transcendência do corpo, da forma. Ou se apontam, apontam de tal maneira que fica muito difuso, confuso de entender, escuro, e você não entende direito.

É preciso ter o olhar correto! A atenção correta. É preciso que se abram algumas frestas, e você veja. Evite terminantemente, atenciosamente, os objetos. Eles são quatro basicamente: seu corpo é um objeto que pode ser observado, seus sentimentos, seus pensamentos e o mundo externo, o que está fora do corpo. Todas essas coisas são objetos. São observáveis. Essas quatro coisas têm que ser completamente evitadas. E como se faz isso? Stop! Quando você fica muito, muito, muito, quieto; nesse momento, os objetos não importam. E esse momento não é difícil, ele está aqui e agora, é só parar tudo. Pára! Pare até a sua respiração, e observe. A natureza desse momento é pacífica. É paz em si. E você ainda diz: "Eu quero que a minha mente fique em paz".Mas mente não pode ficar em paz, porque mente é turbulência, uma mente em paz não é mente, então não existe. É contradição em termos, dizer "mente em paz". Não tem mente! E a paz não pode ser alcançada. Porque essa paz seria um objeto que foi conquistado. E algo que pode ser conquistado, pode ser perdido. "A paz" para onde eu estou apontando não pode ser perdida e nem pode ser conquistada, porque está anterior a todos os outros objetos que existam. Você é simplesmente "essa paz".

Basicamente o meu convite é simples: É parar de fazer absolutamente tudo o que você vem tentando fazer. Tudo! Mas você pensa: "Se eu não fizer nada, nada vai acontecer!" É exatamente isso o que vai acontecer: "Nada". E é "Nada" o que tem que acontecer para você. Se não, você está querendo que alguma coisa aconteça, e essa coisa que você quer que aconteça, ela é só uma idéia. É uma idéia que você tem, e você projeta essa idéia na realidade. Você fica tentando que "sua idéia" se realize, mas não vai se realizar. Quando você remover todas as suas idéias, e parar de tentar fazer com que alguma coisa aconteça, aí algo acontece. Aí, "Nada" acontece. Essa foi a pergunta que fizeram a Buda: "O que aconteceu a você, embaixo da árvore de bodhigaya?" E ele disse: "Nada! O nada aconteceu para mim".É claro, se você vier com o pensamento retilíneo, extremamente racional, você não vai entender o que estou dizendo. Mas se você ouve com seu coração, ou além, se você deixa "sua essência" ouvir o que eu estou dizendo, "ela" vai entender. Porque é "ela" que está falando. É uma ressonância... Tem que haver ressonância nisso que está sendo dito. Nada vai acontecer! E é exatamente esse o meu convite: que "Nada" aconteça para você. Porque tudo o que acontece, desacontece.

Eu sei que na cabeça de cada um de nós foi colocada a idéia de aperfeiçoamento, de perfeição, de aprimoramento, de limpeza, de sintonização, de equilíbrio... E tudo isso o coloca na perspectiva de que você tem que prorrogar o seu "dar-se conta", o seu "acordar". O "acordar" fica prorrogado para um novo momento, para uma nova possibilidade. E você justifica isso colocando-se para baixo: "Eu não sou capaz ainda de entender, eu não estou 'limpo' o suficiente, não estou equilibrado o suficiente". Ou colocando a culpa naquele que vos fala: "Ele não tem o que eu quero!"

Mas você já experimentou tantas coisas, e todos os seus experimentos só restaram como memória. Você se encontra tão vulnerável quanto antes de todos esses experimentos. Não se engane! Todos os experimentos são apenas experimentos e ficam como memória. E agora você apenas lembra-se deles, e quando você está mal, lembra daquele momento. Tem até livros que sugerem isso: "Quando você estiver mal, pense nos momentos bons que aconteceram na sua vida". Oras! É uma forma de sonambulismo, de hipnose. Porque a grande pergunta é: Por que essa pessoa está se sentindo mal? Provavelmente, se for investigado, ela está presa a um pensamento, e ela faz alguma coisa para sair disso...

É óbvio que eu não tenho esperança que vocês dirão assim: "Ok! Vou largar todos os meus interesses agora!" Eu não tenho essa esperança. Mas isso não me impede de compartilhar o que estou compartilhando com vocês. Porque eventualmente alguns de vocês vão perdendo seus interesses. E quando os perderem saibam que existe esperança nessa "des-esperança". Essa é exatamente a "esperança suprema", é o encontro com Deus. E não o Deus da dualidade, porque quando se diz "encontro com Deus", sugere o encontro de duas coisas. Mas na verdade é a dissolução: "Eu me entrego. Seja feita a Tua vontade!" Existem tantas formas de dizer isso, de responder a isso. Mas a verdade é essa: você chega a um ponto onde você simplesmente se entrega. E isso não significa que você vai parar de ter amigos, que você deva parar de ir ao cinema, que você vai parar de fazer sexo... Você não pára. Ou até pára, se quiser, é completamente individual. Mas não tem mais o "gancho" que você tinha, aquilo não mais te "engancha", você não mais morre por nada daquilo, você não sofre por nada daquilo.

Sua natureza já é satisfeita em si. Tudo o que você precisa, você já tem. É claro que você não acredita, é claro que o seu trabalho é encontrar sentido em tudo o que estou compartilhando, e experimentar no seu dia-dia. Quando você sofre ou quando você se ilude com uma alegria extrema em relação a um objeto qualquer que lhe apareceu. Sim, porque às vezes aparece um objeto que te dá extrema felicidade, e você logo diz: "Agora estou salvo!" Só até, em pouco instante, você descobrir que não era nada daquilo que você estava pensando. Se você já teve essas experiências, você pode criar um afastamento, esse afastamento é inteligente. É estar no mundo, sem fazer parte dele."

Trecho de Satsang acontecido em Recife, junho de 2001.

Nenhum comentário: