sábado, 4 de abril de 2009

A maestria dos humores - O Segredo do Anel

"Pensar que “Eu sou a mente”, é ser não perceptivo. Saber que a mente é apenas um mecanismo exatamente como o corpo, saber que a mente está separada... A noite chega, a manhã vem: você não fica identificado com a noite. Você não diz, “eu sou a noite”, não diz “eu sou a manhã”. A noite chega, a manhã chega, o dia vem, novamente a noite vem. A roda prossegue girando, mas você permanece alerta sabendo que você não é nenhuma dessas coisas.

O mesmo é o caso com a mente. Raiva vem, mas você esquece e fica zangado. Ambição chega, você esquece e se torna a ambição. Ódio vem, você esquece e se torna o ódio. Isso é falta de percepção.

Percepção é observar que a mente está cheia de ambição, cheia de raiva, cheia de ódio ou repleta de desejos, mas você é simplesmente um observador. Então você pode ver a ambição surgindo, tornando-se uma grande nuvem escura, depois dispersando-se – e você permanece intocado. Quanto tempo isso pode durar? Sua raiva é momentânea, sua ambição é momentânea, seu desejo é momentâneo. Basta observar um pouco e você ficará surpreso: tudo isso vem e vai. E você fica aí impassível, tranquilo, calmo.



A coisa mais básica a ser lembrada é que, quando você está sentindo-se bem, em um estado de êxtase, não comece a pensar que isso vai ser seu estado permanente. Viva o momento de forma tão feliz e alegre quanto possível, sabendo perfeitamente bem que isso veio e irá passar, assim como uma brisa entra em sua casa, com toda sua fragrância e frescor, e sai pela outra porta.

Essa é a coisa mais fundamental. Se você começar a pensar em termos de tornar seus momentos de êxtase permanentes, você já começou a destruí-los. Quando estes acontecerem, seja grato. Quando se forem, agradeça à existência. Permaneça aberto. Isso irá acontecer muitas vezes, não faça julgamentos, não selecione. Permaneça neutro, sem escolhas.
Sim, haverá momentos quando você irá se sentir miserável. E daí? Existem pessoas que são miseráveis e que nem mesmo conheceram um único momento de êxtase: você é afortunado. Mesmo em sua miséria, lembre-se de que ela não será permanente, também passará, então não se preocupe muito com isso. Fique tranqüilo.

Assim como há o dia e a noite, também há momentos de alegria e de tristeza. Aceite isso como parte da dualidade da natureza, como parte da forma de ser própria das coisas. E você é simplesmente um observador: não se torna nem a felicidade nem a miséria. Felicidade vem e passa, miséria vem e passa. Uma coisa continua sempre presente: aquele que observa, aquele que testemunha.

Aos poucos, fique cada vez mais centrado no observador. Dias e noites virão... vidas e mortes virão... sucesso e fracasso irão ocorrer. Mas se você estiver centrado no observador, pois essa é a única realidade em você, tudo mais é um fenômeno passageiro.

Por um momento, tente sentir o que estou dizendo: seja apenas um observador.

Não se apegue a nenhum momento por este ser belo, e não fuja de nenhum momento por este ser miserável. Pare com isso. Você vem fazendo isso por vidas. Nunca teve sucesso e jamais terá. A única maneira de ir além, de permanecer além, é encontrar um lugar de onde possa observar todos esses fenômenos mutantes sem ficar identificado com eles.

Vou contar uma antiga história Sufi.

Um rei perguntou aos sábios da corte: “Estou fazendo um anel belíssimo para mim mesmo. Consegui um dos melhores diamantes que existe. Quero manter, escondido dentro do anel, uma mensagem que possa me auxiliar num momento de completo desespero. Terá que ser bem pequena para que possa ficar oculta sob o diamante no anel.”

Todos os sábios estavam reunidos, todos grandes eruditos. Poderiam escrever grandes tratados. Mas dar ao rei uma mensagem com apenas duas ou três palavras que pudesse ajudá-lo em momentos de completo desespero... eles pensaram, procuraram em seus livros, mas nada puderam encontrar.

O rei tinha um servo antigo que era quase como seu pai – ele já tinha servido também a seu pai. A mãe do rei havia morrido cedo e esse servo cuidou dele, assim ele não era tratado como um empregado. O rei tinha imenso respeito por ele. O velho disse, “Não sou um sábio, culto, conhecedor de muitos assuntos, mas sei qual é a mensagem, pois só existe uma mensagem. E estas pessoas não podem dá-la a você. Ela só pode ser dada por um místico, por um homem que tenha realizado a si mesmo.”

Em minha longa vida no palácio, encontrei todo tipo de pessoas, e uma vez, um místico. Ele também era um hóspede de seu pai e fui colocado para servi-lo. Quando ele estava para partir, como um gesto de agradecimento por todos os meus serviços ele me deu essa mensagem” e a escreveu num pedacinho de papel, depois dobrou o papel e disse ao rei, “Não leia agora, apenas a mantenha escondida no anel. Só leia esta mensagem quando tudo mais tiver falhado, quando não houver mais saída.

E essa hora não demorou a chegar. O país foi invadido e o rei perdeu seu reino. Ele estava fugindo em seu cavalo para salvar sua vida e os cavalos dos inimigos o estavam seguindo. Ele estava sozinho, e eles eram muitos. Depois ele chegou a um ponto onde a estrada acabava, num lugar sem saída, só havia um despenhadeiro. Cair dali seria o fim. Ele não podia retornar, o inimigo estava ali e ele podia ouvir o som dos cavalos se aproximando. Não podia avançar, não havia saída...

Então, lembrou-se do anel. Ele o abriu, tirou o papel, e havia uma pequena mensagem de enorme valor: simplesmente dizia, “Isso também irá passar.

Um grande silêncio recaiu sobre ele enquanto lia a frase: isso também irá passar. E passou. Tudo passa, nada permanece eternamente nesse mundo. Os inimigos que o seguiam devem ter se perdido na floresta, devem ter tomado o caminho errado. Os cavalos se afastavam aos poucos, até que não era mais possível ouvi-los.

O rei ficou imensamente agradecido ao serviçal e ao místico desconhecido. Aquelas palavras provaram ser milagrosas. Ele dobrou o papel, colocou-o de volta no anel, reuniu seus exércitos e reconquistou seu reino. E quando voltou à capital, vitorioso, havia uma grande celebração por toda a cidade, com música e dança, e ele sentia muito orgulho de si mesmo. O velho serviçal caminhava ao lado de sua carruagem. Ele disse: “Essa também é uma boa hora: leia de novo a mensagem.”

O rei falou: “O que você quer dizer? Sou vitorioso, o povo está celebrando, não estou desesperado, não estou numa situação da qual não há saída.”

O velho serviçal disse, “Escute. Foi isso que o santo disse para mim: esta mensagem não é só para os momentos de desespero, também é para os de grande prazer. Essa não é somente para quando você for derrotado, mas para quando você for vitorioso. Não apenas para quando você for o último, mas também para quando for o primeiro.”

E o rei abriu o anel e leu a mensagem: “isso também irá passar,” e de repente, a mesma paz, o mesmo silêncio no meio da multidão que celebrava alegre, dançando. Mas o orgulho, o ego não estavam mais presentes. Tudo passa.

Ele pediu ao servo que se aproximasse mais da carruagem e se sentasse ao seu lado. Perguntou: “Há mais alguma coisa? Tudo passa... Sua mensagem me ajudou muito.”

O velho servo disse: a terceira coisa que o santo disse foi: lembre-se, tudo passa. Só você permanece. Você permanece sempre como uma testemunha.”

Tudo passa, mas você permanece. Você é a realidade e tudo mais é somente um sonho. Belos sonhos, pesadelos. Mas não importa se é um belo sonho ou um pesadelo, o que importa é aquele que está vendo o sonho. Aquele que vê é a única realidade."

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